Em memória à Aline Germano e Wellington Lira.

 

Dentro do útero tudo parece ser tão seguro até as batidas do coração são mais equilibradas. E mesmo lá envolto naquele estado de segurança, enrolado no cordão umbilical da grande casa materna, flutuando no mar de líquidos amnióticos, e não há local mais seguro que o ventre materno, todos nós sabemos disso. O nosso [in]consciente coletivo nos diz isso o tempo todo, mas ainda sim em qualquer passo em falso ou mesmo com todos os passos seguros num rodopio ou dobrando as curvas das estradas de Santos, um aborto espontâneo pode ocorrer, a morte dentro ventre. Assim partiram subitamente o lindo casal Wellingnton Lira (34 anos) e Aline Germano (28 anos), conectados com as raízes de sua terra, grávidos de amor ancestral afro-indígena, filhos legítimos da Umbanda de raiz, do território sagrado boca do mato no Estado do Rio de Janeiro, agricultores que voavam para visibilizar seu povo, desencarnados precocemente dentro do útero de sua Mãe Terra.

Cachoeira de Macacu está em prantos, o choro mais doloroso de todos, o choro incurável de mães que perderam seus filhos cedo demais, mas também junto com suas lágrimas inconsoláveis, Mamãe Oxum conforta seus corações enlutados e acolhe em clima de muita paz e iluminação o renascimento desses dois seres humanos incríveis que chegam em Aruanda em clima de festa em suas novas jornadas de companheiros, caras metades e indivíduos inteiros que sob os braços do Orixá Sol da co-criação, Oxalá, foram ao reencontro com o seu  útero divino, a grande Jequitibá tão bem cultivada aqui desse outro lado da vida. Afinal já canta Anélis Assumpção “Marte, a sorte e a morte /A ciência não traduz/ Célula tronco/ Árvore, espírito/ Ser humano, anjo e luz”...

E está historiadora que vos fala daqui das minhas raízes amazônicas rememoro meu vôo no mês de julho de 2015 de Belém do Pará até a cidade do Rio de Janeiro para pesquisar os mapas amazônicos coloniais e suas representações indígenas nos arquivos históricos da antiga capital do Brasil, repentinamente cheguei até Cachoeira de Macacu para plantar, aprender sobre as ervas medicinais no curso de erva medicinal do Pajé Tobi (da etnia tupi-guarani) sob inciativa destes meus irmãos de almas da mata Atlântica, Wellington e Aline, minha gratidão eterna por esse aprendizado e reencontros. A identidade umbandista, a "tecnologia" afro-indígena, árvore ancestral das cidades de rios e de matas que nos uniu, daqui do ventre em que me embalo levarei até o desmanchar do fio de vida que me restar na Terra.

Desta lembrança irmanada eternizou-se no registro , ALGUMAS NOTAS DE VIAGEM NO TEMPO HISTÓRICO: FONTES, ESPAÇOS E PAJELANÇA INDIGENA

Com amor,

Alanna Souto.