DEZ MEGAS DICAS PARA EXERCITAR O LIVRE PENSAR EM TEMPLOS UMBANDISTAS, GRUPOS RELIGIOSOS OU AFINS.

 

Por Alanna Souto

Tem coisas que não devemos deixar passar, em especial, na Umbanda, aonde o veículo de comunicação com o SAGRADO, perpassa o humano, ou seja, passível de falhas, sobretudo, porque o ser humano sempre estar à beira de um ataque de nervos.

Então como saber quando é o guia ou quando é o médium botando sua opinião manipulativa sobre as pessoas?! E os estudos na umbanda?! São dois questionamentos centrais e de suma importância para que possamos exercitar o bom senso crítico e não ficar refém do EGO de nenhum líder religioso, dirigente de grupos ou de templos.

Aqui registro algumas dicas que desses meus parcos sete anos de vivência na espiritualidade, pesquisa e estudo tem me conduzido num caminho mais honesto para comigo e ao próximo, além de mais livre e autônoma.

Parafraseando um querido mestre cabalista que tive a “sorte” de conhecer recentemente e que muito tem me ensinado, "quem sabe um dia a humanidade aprende com os acertos”, mas nesse caso aqui podemos muito aprender com certos equívocos visíveis e públicos, as redes sociais que os digam.

Afinal uma coisa você expor algo e botar em risco a si mesmo, aliás, todo mundo tem o direito de fazer o quiser consigo, não é? Outra coisa, você exercitar um “controle” e um “poder” aos outros, mexer com as emoções e mentes das pessoas que estão ali [seja igreja, templo, grupo de estudo, etc.] porque confiam em você, que procuram mudança; outras buscam um apoio emocional; uma muleta para se equilibrar na vida... Pra mim isso é um ato criminoso tanto quanto afugentar, torturar um ser vivo , seja ele humano ou animal.

Lidar com vida humana de forma imprudente e negligente, tonando-as seres dependentes emocionalmente, manipulando suas vidas subjetivas e objetivas também, inclusive suas relações sociais, deveria ser crime, julgado na justiça comum, assim como um médico é julgado e condenado, caso seja imprudente lesando seus pacientes. Bom, o que me conforta é que na justiça divina os parâmetros são outros e as contas encontram-se registradas já faz tempo.

Não se trata aqui de incentivar à desconfiança ou indagações desnecessárias ou desrespeitosas, mesmo porque se você faz parte de um grupo religioso ou um grupo de estudo que verse sobre o religare é porque se acredita em algo MAIOR, crer no CRIADOR, seja lá a nomenclatura que melhor lhe identifique...

Outra questão, não se trata também, de desrespeitar os mestres de seus templos ou grupos de estudos, trata-se, sim, de você ponderar, fazer questionamentos sensatos sobre o conhecimento que está sendo repassado para assim obter algumas pistas e respostas sobre o DIVINO MARAVILHOSO, afinal não existem repostas se não houver perguntas... Há quem diga que o segredo encontra-se na pergunta! A “chave”!

Deve ser registrado, também, que tal questionamento não é de nenhuma forma, uma tentativa de bagunçar as regras de um templo que muito devem ser respeitadas. Quando se chegou lá, elas já existiam e se aceitaste em fazer parte deve honrá-las, o que não significa que com diálogo, respeito pela diversidade e flexibilidade não se possa “transforma-las”, tudo é uma questão de ouvir, refletir e agir sensatamente.

Deve-se, sobretudo, buscar estudar para além do templo ou do grupo, conhecer novos sistemas, novas ideias e até mesmo visitar, de forma seletiva e cautelosa, outras “casas santas”, o que irá ajudar a enriquecer seu aprendizado e despertará ainda mais sua mente diante daquilo que está sendo ensinado, além de prevenir de certos engodos.

Seguem as dicas:

1)      Você começa a frequentar um templo ,seja ele um terreiro,tenda, igreja ou “banda musical” [uma leve ironia pra descontrair], encanta-se com todos os aspectos estéticos do ritual, uniformes, espaço grandioso, sacerdote de boa aparência, canta e baila bem, enfim, tudo lindo e maravilhoso, daí algum membro ou mesmo o sacerdote ou ambos começam a maldizer publicamente ou nos “bastidores” outras religiões ou sistemas espirituais, começam a enxovalhar fundamentos de religiões milenares, partindo do princípio que a LUZ só existe em templos que se pratica a religião da forma que está sendo praticada em sua “Igreja”. Desconfie, a semente inicial do fanatismo é a visão unilateral do religioso, onde o templo passa a ser a referência e o sacerdote, o mártir salvador! Quando o religare e o sagrado deveriam estar no bojo da relação. ( Ver o texto  TEMPLOS SAGRADOS, DIRIGENTES E DISCÍPULOS- PARTE II: REFLEXÕES SOBRE FANATISMO RELIGIOSO.).

2)      Do fanatismo se começa o proselitismo e o culto ao personalismo, ninguém mais faz nenhum tipo de questionamento ao dirigente, todos concordam com tudo que ele fala e quem fizer o contrário será taxado de rebelde, “mal criado” e indisciplinado, passível até de ser afastado do templo. Inclusive, isso se refletirá nas redes sociais, onde o facebook será o “espelho, espelho meu, alguém mais bonito do que eu” desse dirigente, disputando curtidas e comentários, aliás, notem sempre as mesmas pessoas, obviamente, adeptos e alimentos de seu (ego) reflexo.

3)      Da intolerância: A intolerância religiosa é um aspecto que transcende o templo, pois ultrapassa os limites do espaço, atingindo pessoas que discordem daquela “VERDADE” ou mesmo daquela liderança. Para você verificar de que forma isso se dar, além das outras duas dicas citadas acima, perceba como a direção do templo ou do grupo procede com ex - membros, sempre amaldiçoando e perenemente sendo expostos como traidores e orientando veladamente todos os simpatizantes ou futuros adeptos da seita, ops, do templo a não se relacionarem com tais dissidentes. Por que será? Já se perguntaram? Qual o medo de ouvir o outro? De conhecer o diferente?  

4)      O dirigente nunca erra, nunca! É uma eterna vítima do destino, de conspirações e armadilhas.  Alguns desses sacerdotes chegam até manipular “ingênuos” militantes e ativistas os apoiarem em suas brigas com seus desafetos, colocando-os em brigas desnecessárias que nem fazem ideia dos motivos que culminaram esses conflitos, além dos motivos relatados unilateralmente pelo pobre, perseguido e vitimado dirigente.  O mundo e as trevas contra o dirigente, o único e verdadeiro zelador da LUZ.  E sim, meus camaradas, há quem acredite e compre a briga desse dirigente, o que é lamentável...

5)       Sempre é dito nos templos de umbanda que devemos silenciar diante dos guias [entidades divinas, mestres de aruanda] e se caso o GUIA nos fale algo que machuque nosso orgulho ou nos deixe receoso, devemos superar, pois o GUIA está ali não para nos agradar necessariamente e sim para nos curar, libertar e nos fazer evoluir. Perfeito! Devemos romper com o melindre e assim transcender rumando nossa transformação. Bom, isso é uma coisa que é certa, mas sempre tem os “poréns”... E quando o sacerdote num determinado momento de conflito com algum discípulo ou paciente em vez de resolver seus dramas pessoais, ponderando ou dialogando com aquela pessoa ou pessoas, resolva “dar passagem” ao GUIA e esse lindo ser de LUZ de aruanda, simplesmente “solta os cachorros” em cima dessas pessoas, constrangendo-as, colocando-as contraparede, perguntando se tem algo contra o dirigente e otras coisitas más? Afinal esse dirigente nunca erra e o GUIA DE LUZ está ali sempre a confirmar tudo que o dirigente da casa diz e professa.

Um GUIA DE LUZ, sério e comprometido com as tarefas das mais misteriosas para com o planeta e a humanidade, comportando-se como próprio gênio da lâmpada para com seu Aladin? É isso mesmo?

Aliás, é uma tremenda covardia usar, se esconder, utilizar de uma roupagem divina para solucionar seus conflitos e problemas pessoais.

6)      Do sensato questionamento: A pergunta que paira em seus corações, não em suas mentes, pois a mente é uma faca de dois gumes sempre se deixa influenciar pelas emoções que nos cega e não nos permite ver o óbvio.  O “coração” é infalível, ele é intuitivo e se liga com a cabeça,digo, sente as vibrações da coroa, do orixá, do anjo da guarda, ou seja, da força que vem do ALTO, o “coração” e a “razão” andando juntos de forma harmônica e sábia é imbatível. Então, a pergunta que nos toma é: será que é o GUIA ou o médium? A resposta é clara e objetiva, sem tergiversar, é o médium atuando desequilibradamente! Pode ser o médium mais “poderoso” da face da terra, mas se as emoções falarem mais alto, a correnteza irá o levar e o afogamento será inevitável.

7)       Da fascinação: Diante de crises e desequilíbrios emocionais este dirigente corre o risco de fazer conexões até mesmo das mais obscuras, sofrendo em muitos casos da chamada FASCINAÇÃO OBSESSIVA (doutrinaespirita.com.br/?q=node/104), um transtorno espiritual que segundo o mestre Alan Kardec diz abater muitos dirigentes de casas espirituais, um perigo, pois esse sacerdote fascinado já se considera autossuficiente, não busca auxilio de nenhum outro sacerdote mais experiente, nem pra se “recolher” ao santo [tarefa que muito se recomenda auxílio de um pai ou mãe de santo mais antigo] ou muito menos para se aconselhar...é absolutamente seguro da sua mais alta conexão divina, não aceitando nenhum tipo de questionamento sobre tal conexão e quem o fizer, será rapidamente afastado do templo e acusado de estar cheios de sombras e obsessões. Observem atentamente e estudem a questão. Recomendo a leitura da obra O livro dos médiuns do autor acima.

8)      Da gratidão, dirigente e discípulo: É claro que devemos ser grato a todos aqueles e situações que nos ajudam a crescer, mas nunca devemos confundir a gratidão a D`us , aos Guias e ao Sagrado com reverência personalista ao dirigente de um templo, sobretudo, porque as acertadas “bençãos” foram dadas pelas entidades e o dirigente nada mais é que um veículo de comunicação, frágil e passível das mais diversas falhas.Não devemos de forma alguma desenvolver qualquer laço dependência emocional com tal dirigente, pois acabamos por nos “algemar” e fechar os punhos á crítica construtiva, além de ser uma condição primária para as lideranças abusivas.Dirigente que cobra [in] diretamente por gratidão só porque “incorpora” o guia, desconfie! Não fica parecendo, uma espécie de reconhecimento velado e forçado para alguém que pratica caridade, prega humildade e reforma interna?!

Devemos sim ser gratos aos nossos dirigentes à medida que eles também devem muito agradecer aos seus aprendizes, em especial, para com aqueles que os desafiam ou desafiaram em sua jornada espiritual, seja de forma harmônica ou conflituosa, alegria e dor... Pois sabemos que dessa relação sagrada e pedagógico, que muitas vezes se confundem no campo emocional para ambos, e isso é bíblico! Veja a questão de Jesus e Maria Madalena, lembram?! Enfim, o que quero dizer que o ensino e aprendizado são ações recíprocas, afinal o que seria do professor, sem o aluno? E vice-versa... Dirigente que não tem essa noção é complicado.

Infelizmente, a gratidão desses dois personagens cármicos se esvai, em especial, quando ocorre um rompimento abrupto e violento, e ambos se sentem machucados, a pesar carmicamente para aquele que exagerou e distorceu os fatos...

O que se deve sentir por um dirigente que se quer foi capaz de dialogar? Ou vice-versa.Indiferença é o que sobra na melhor das hipóteses.

Não existe (in) gratidão quando prevalecem marés e rios de intolerância.

 

9)      Da gratidão, templo e (ex) discípulos:

Outro ponto, por que aquele que escolhe romper com o templo é acusado, na maioria dos casos, como ingrato? Independente se saiu numa boa ou não? E o livre-arbítrio? E o direito de ir e vir aonde é que fica? E o respeito e a ética para com as escolhas do próximo? Outra super questão para desconfiar pesadamente...

Dessa relação é importante lembrar, também, do processo de construção e manutenção do templo, pois é sabido que muito desses espaços religiosos foram construídos com ajuda financeira dos seus membros efetivos por mais que o sacerdote ou seu cônjuge tenha investido vultosas quantias para sua construção, não se deve descartar de nenhuma forma o importante auxílio material do coletivo de seus membros, de todos que fazem e fizeram parte dessa “casa”.

Sem contar a manutenção do templo em que muitos casos se exige que todos contribuam, exceto aqueles que não têm condições, com uma taxa mensal, de acordo com sua situação financeira. Que tal? Façam as contas.... Então vos pergunto, será honesto da parte de um dirigente chamar seus ex- discípulos de ingratos?

10)  Do estudo na umbanda: O estudo na umbanda é fundamental, aliás, o estudo em qualquer sistema espiritual é importante, pois nos previne contra muito dos males acima e nos previne do perigo de nós mesmo, tanto no sentido de nos policiarmos diante de nossas certezas, excesso de segurança, vaidades, incompreensões perante o “diferente”, exercitando a tolerância e a humildade. Além de nos abrir diversas “portas” dos mistérios divinos, ajudando-nos a nos conectar cada vez mais de forma consciente e desperta.

Na umbanda os estudos podem ser ministrados pelos umbandistas mais antigos, preparados e versado nas noções básicas da religião, além do sacerdote. Não está escrito em nenhum lugar ou foi dito pelo fundador da Umbanda, o Caboclo das 7 encruzilhadas por meio do grande Zélio Fernandino de Moraes, que para se ministrar aula num templo ou num grupo de estudo sobre umbanda deva-se está “incorporado” obrigatoriamente de um Guia! Dirigente que faz tal afirmação no mínimo está cerceando seus discípulos de refletirem crítica e construtivamente sobre os ensinamentos passados de forma livre e autônoma. Aliás, é isso que tanto os Guias de aruanda almejam que tenhamos independência para caminhar, é esse objetivo da umbanda, a libertação, o desprendimento!

Tal atitude afirmativa de que a aula deve ser ministrada somente por um GUIA “aparelhado” num médium ou que o estudo só se execute se ministrado ou orientado pelo dirigente, fica até parecendo um medo sublimado de que seus aprendizes se tornem seres autônomos, livres, leves e soltos, não acham?! Pensem, indagam-se e prestem muito atenção.

Na umbanda, assim como outras religiões não institucionalizadas, a citar as religiões afro-brasileiras, não possuem uma “Igreja” matriz e nem um livro sagrado oficial, a exemplo da Bíblia para os cristãos e a Torá para os judeus.

O livro sagrado da umbanda é a NATUREZA. É uma religião diretamente ligada as forças da natureza, ao culto de todo ser vivo, por isso não se imola nada na umbanda, uma religião universalista, libertária e eminentemente ecológica.

Todavia os livros são muitíssimo importantes sim! Pois o conhecimento liberta e de nenhuma forma atrapalha! O que atrapalha é a visão unilateral e maniqueísta do “olhar”...É claro, assim como tudo na vida, o excesso e distorção do conhecimento em vez de libertar, aprisiona, assim como a fé cega e fanática! Jesus não usou livros, mas instruiu muitos dos seus discípulos e os incentivava em seus estudos, independente de sua presença ou não, enfim, os quais registraram tudo num livro, que ficou conhecido como Novo testamento da bíblia cristã.

Os livros escritos pelos grandes mestres umbandistas com intuito de esclarecer e fundamentar a religião, a citar WW. Da Matta e Silva, Rubens Saraceni, Lurdes de Campos Vieira e mais recentemente o Alexandre Cumino são de fundamental importância não somente para luz do esclarecimento da Umbanda, mas também para desmistificar preconceitos acerca da religião. Esses senhores, umbandistas e pesquisadores muito contribuíram para abrir mentes e caminhos para aqueles que desconhecem a nossa misteriosa umbanda.

Nestes livros existem tesouros, pérolas e orientações que muitos zeladores de santo que executam estudos deveriam ler ou revisar, sobretudo, se estar indo numa direção dogmática e cheios de tabu, não adianta pregar libertação, reforma intima, se o banheiro de sua casa encontra-se imundo. 

Hipocrisia e sacerdócio creio serem duas coisas que quando caminham juntos acabam por se conflitar e o final não deve ser dos melhores.

Enfim, nunca é tarde pra se rever. Fazer autocrítica diante de seus discípulos.

Assumir honestamente suas falhas, além de exemplar, é libertador e um tiro de misericórdia para consigo mesmo.

O ser humano é um ser falível, apesar de divinamente transformador, contudo invencível e perfeito só D`us.

 

Saravá!