UM CANTO PARA OXOSSI

20/01/2015 20:03

 

S/F

Por Alanna Souto.

 

Mãe terra acocorada pariu um ser do sopro do Mistério que tudo criou.

Junto com o Misterioso essa nova inteligência tornou-se co-criador de tudo aquilo que enraíza das terras e frutifica nas matas.

Sua essência por si só é vencedora, pois nela habita o símbolo do caçador que semeia e abre os caminhos.

Entoou seu canto nas raízes de todas as tribos milenares o conhecimento profundo pelo despertar das almas. 

Por isto também é o senhor da misericórdia que navegou nos porões escuros dos navios negreiros afagando os corações doloridos de todos os pretos no desalinhar dos fios de suas vidas.

E nessa corrida pelas Américas em tempos de escravidão foi símbolo da resistência, sua flecha matava o algoz colonizador que empesteava seus povos com doenças e violência pela convenção de valores de uma cultura imperialista, dita civilizada.

O seu irmão mais velho Ogum, o libertador, a emanação divina do trono da Lei o ensinou sobre a severidade de guerrear nos reinos que habitavam no similar da Árvore da vida.  E Oxossi ensinou ao grande rei general sobre o poder da compaixão, ele, o rei generoso de todas as matas.

Foi numa dessas terras aonde o ouro cobiçado por seus invasores veio das entranhas dos elementos de uma das suas maiores co-criação, a árvore mais perfeita, a madeira incorruptível e imune de qualquer praga, o pau brasil, que por séculos sangrou e nunca faleceu, mas sua hemorragia criou forças junto com o grito de todos os povos escravizados e açoitados pela fivela europeia do velho mundo para fundar sob a ordem do Uno, pater e mater, o religare mais autêntico que deu voz, alento e reconhecimento a todos esses povos que emprenhou o brasileiro, a Umbanda, anunciada por um dos soldados flecheiros das 7 encruzilhadas de Oxossi, tornando-se, o orixá-rei dos tronos da linha de caboclos, representando toda maestria de um povo mágico, nomeado indígena, seus filhos índios e caboclos, (des)tribalizados nas florestas, nas cidades e periferias na longa batalha pela demarcação de seus territórios cantam o louvor pelo reconhecimento da árvore dos encantados, o dom da cura e de toda luta pela vida de cada ser natural que resistiu aos Belos Montes que corre sangria em suas veias assaltando-lhe a liberdade.

Oxossi, o rei das matas, o caçador das almas, o arquétipo do vencedor do conhecimento e da fartura, ensina o saber acocorado com sua pena e maracá a prosperar sua colheita e vencer suas doenças. Ajoelha-se em reverência aos antigos, pretos velhos, e segura as mãos da inocência, os erês, formando assim a divina trindade de um povo escolhido a entoar a libertação das prisões incólumes de todo tipo de fanatismo e das injustiças sociais do mundo. 

A Aumbandhã, a Israel multifacetada dos trópicos, hoje, 20 de janeiro comemora o dia de seu fundador, Oxossi sob as benções da Criação e a doçura de São Sebastião, o louvor de todos povos tradicionais de terreiro à Arvore dos encantados, um olhar entrecruzado com Yourubá, o amor eterno que desata os nós do peito de toda dor e alegria de nossa ancestralidade.

Saravá!

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