SEU ZÉ PELINTRA: O SUBVERSIVO DE ARUANDA

09/09/2012 17:53

 

Por Alanna Souto 

Refletir sobre espiritualidade num mundo pós-moderno, onde as pessoas só consideram legítimas as análises recheadas em conceitos científicos, referenciais bibliográficos e vínculos intitucionais, presas na efemeridade do prazer de todas as formas e do culto a si mesmo, não deixa de ser uma ação ousada, se não digo revolucionária, indo na contramão de tudo aquilo enraizado na matéria, no racionalismo, no corpo... no hoje e nada mais.E mesmo, supostamente, os mais socialistas que passam o dia a postar referências sobre Marx e similaridades nas mídias sociais,sempre limitados ao já obsoleto, mas de grande importância, materialismo histórico e dialético, afinal ao menos na teoria houve uma tentativa de forjar um mundo mais justo na ‘caixinha’ ilusória em que vivemos, pois , de fato, a transformação no mundo só irá ocorrer quando cada ser humano optar em fazer sua reforma interna,revê suas atitudes e vícios morais rumo a direção do caminho de volta por meio da magia e processo iniciático, ‘trabalho, cura e libertação’, é o que propõe e executa, como lei divina em ação, a Umbanda, pautada no amor universal e na caridade.Enquanto isso, revoluções do ego irão prevalecer,da esquerda para direita, de cima para baixa, independente de ideologias e sistemas.

É importante fazer tal introdução, pois iremos tratar aqui de uma entidade da Umbanda Sagrada que tem seu nome pronunciado no Brasil, de norte a sul do país, conhecido pela sua irreverência e postura contraventora diante de um mundo padronizado e no relacionar excêntrico com a espiritualidade, por isso tão difícil de compreendê-lo, inclusive, por muitos religiosos e estudiosos. Católicos, protestantes, e mesmo, correntes espiritualistas, ditas progressistas, a exemplo, da cabalá, do esoterismo e kardecismos, não conseguem compreender esse grande mestre espiritual, chamado José Pelintra vulgo seu Zé, muitos desses religiosos ou até mesmo descrentes alimentam uma ideia equivocada pautada no preconceito, relacionando a entidade com capetas, espíritos malignos ou menosprezando sua mestria pela forma que se comunica e age, obviamente, por desconhecerem o vasto universo de linhas espirituais e arquétipos existentes na Umbanda, religião milenar, organizada no astral desde os tempos remotos de Atlântida há mais de 100.000 anos antes de Cristo Jesus e de matriz plural, universalista, como bem demonstrou Roger Feurady em sua obra " Umbanda, essa desconhecida".

Seu Zé Pelintra, assim como muito mestres da espiritualidade teve uma vida terrena, apesar de também existirem muitos outros que nunca vivenciaram na Terra e sim oriundos de outras dimensões, que estão para além da ‘caixinha’[o planeta Terra] e dos portais, o que seria o mundo real, como é informado por diversos mestres dessa espiritualidade umbandista...O  importante aqui é esclarecermos a respeito do arquétipo, da rica simbologia que cerca seu Zé Pelintra, originário de muitas iniciações na magia em várias vidas passadas, perpassando o Egito antigo,como escravo  núbio com grandes poderes psíquicos; na Palestina foi ‘resgatado’ por São Dimas, que morreu ao lado de Jesus na crucificação,o famoso ‘bom ladrão’, dando início na Umbanda a linha espiritual dos ‘malandros’; sendo que sua última vida passada foi século XIX  no Brasil,renasceu na Bahia, onde se ‘ajuremou’ desde muito cedo, ainda criança.Ou seja, adentrou nos reinos, atravessou os portais e de lá voltou mestre aos 7 anos de idade. No sertão baiano curou milhares de pessoas, sobretudo, os mais necessitados e carentes, mazelas de todo espécie, físicas e morais, atuando com mestria no catimbó, a ciência divina das sete cidades da Jurema, um dos portais de Aruanda [Reino iniciático do Grande Astral Superior].

Após um curto período em Salvador, tornando-se mestre na arte da capoeira, seu Zé sob orientação de seu mestre foi enviado à cidade de São Sebastião do Rio Janeiro no auge da Belle Epoque, trabalhando incansavelmente em prol do excluídos; dos abandonados; dos viciados; das prostitutas; dos marginais; etc...Tomando conta da noite  [vivenciando também, como bom malandro que foi] , da boêmia pela mestria do arquétipo da malandragem divina e para além disso, atuando como Exu, o executor da lei, desfazendo feitiços, demandas e abrindo caminhos, fazendo a nossa guarda e , inclusive,sendo guardião com outros Exus de Lei, de todos os portais seja o do mundo ilusório, seja os dos reinos. Não se sabe exatamente quando ele partiu do RJ, pois foi enviada uma nova tarefa pelo seu mestre na sua escalada magística ou se, de fato, morreu ou mesmo se ‘encantou’ de vez em Aruanda.

A Biografia desse guia da umbanda já foi relatada por inúmeros pesquisadores e umbandistas, aqui cito a obra psicografada pelo sacerdote de umbanda do Templo Mãe Divina em Sao Paulo, o zelador do santo, Marcel Andrade que escreveu sem dúvida alguma uma obra didática, honesta e de uma simplicidade a qual ajuda enxergar de forma encantadora os arquétipos desse grande mestre, " Zé Pelintra, uma revelação" , segue o link para baixar o livro a quem interessar www.templomaedivina.com.br/livro-ze-pelintra/

Seu Zé Pelintra desdobra-se em várias linhas espirituais, possuindo, portanto, uma vasta simbologia, como já bem observamos, ele é o mestre catimbozeiro que vem na linha das almas, o Exu de lei e, sobretudo, o grande mestre e pai da falange da malandragem.

É importante fazer a ressalva aqui, que não se trata da malandragem referente à marginalidade, a trapaças ou furtos e sim se refere aquela malandragem necessária para sobrevivência digna de quem em algum momento já passou por apuros, a ‘ginga’ e a flexibilidade sábia em alguma situação de negociação ou conflito ou mesmo a resistência dos miseráveis, alijados e esquecidos. Daí o porquê seu Zé Pelintra se comunica e se porta de uma forma que ele próprio chama de subversiva porque já sentiu a fome na pele, já viu e curou a dor dos desesperados, com ele o ‘papo’ é objetivo, direto, sem rodeios ou não me toques, fala sem hipocrisia, tira sarro, doa a quem doer...Viveu intensamente,digamos assim, todas as loucuras, amores e festas desse mundo ilusório,expressa-se numa linguagem popular, pois ele é o POVO EM SUA VERDADEIRA EXPRESSÃO, independente do assunto que esteja falando, desde o mais simples até o mais profundo, sempre será combativo e com senso de humor peculiar, apesar de amoroso e generoso. É esse o fundamento dele, geralmente vem na linha de Obaluaê com Yansã, dois grandes Orixás, os quais carregam o peso e a leveza da cura, sabedoria, justiça e, sobretudo, da luta aguerrida, do eterno campo de batalha. Mas também vem na linha de Ogum desfazendo demandas, energias negativas e abrindo os caminhos. 

Se existe um revolucionário na espiritualidade que abraça destemidamente a bandeira e a causa dos despossuídos, dos desamparados, dos abusados e expropriados de todas as espécies, seja materialmente, sexualmente, emocionalmente... Esse se chama José Pelintra, que leva o amor divino e universal, a caridade e a libertação por meio da Umbanda Sagrada, acalentando corações sofredores, independente de cor, crença, riqueza/pobreza ou opção sexual, tocando-lhes nos carmas e contando piadas, conquistando sorrisos, gargalhadas e alegria de todos aqueles que o procura e dele precisar ajuda. Além de ser o lord protetor dos corações femininos, afinal canta seu ponto "Seu Zé quando vier da lagoa, toma cuidado com o balanço da canoa/ Oh, Zé faça tudo que quiser, só não maltrate o coração desta mulher..."

É importante lembrar, ainda, a mensagem final de um outro dos seus maravilhosos pontos cantados: "Ele sempre ajuda a quem nele tem fé, fala seu Zé..."

Para entender seu Zé Pelintra basta apenas amá-lo incondicionalmente, pois sim, ele é o mestre subversivo de Aruanda e ama imensamente todos seus filhos de fé.

Dedicado: Ao meu mais que amado pai e mestre da  Umbanda Sagrada, José Pelintra.

Saravá!

 

Alanna Souto.

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