O TAROT E O EMPODERAMENTO FEMININO

05/07/2017 02:21

 

 

Por Alanna Souto

Acredito que há um texto no próprio clube do tarot que trata sobre essa relação do tarot e empoderamento feminino. Já não lembro. O caso que podemos refletir sim sobre o tarot e a questão do empoderamento feminino. E de que forma? O que você leitor do gênero masculino que me formulou a questão entende por empoderamento feminino primeiramente? Saber o que se trata empoderamento para mulher é fundamental e independe de gênero. Certamente seu ponto de visto vai ser enquanto homem consciente, assim penso [rs], de que vivemos num mundo machista em que as mulheres ainda são tratadas de forma paternalista por seus pares masculinos, o homem, o líder, o leão que sempre vem na frente; a mulher a apoiadora que exerce um papel mais secundário, especialmente, na vida pública. Para além disso a mulher dependente desse “cabeça de família”, seja emocional quanto economicamente.

No avançar dos tempos essa conjuntura socioeconômica da sociedade ocidental conservadora e patriarcal, a mulher por meio de diversas lutas consegue se posicionar e se fazer ouvir. As vozes dissonantes das primeiras mulheres que conseguiram ter acesso à educação superior se deu somente no final do século XIX com a lei Leôncio Carvalho em 1879. A primeira mulher brasileira a cursar uma universidade foi uma branca, graduada na faculdade de medicina da Bahia em 1887, isto é, no Brasil a treta com a mulher não é só de gênero, mas de classe e “raça”, ou ainda quando finalmente as mulheres conseguiram o direito cívico do sufrágio universal somente no século XX!

Sim, eu que sou uma mulher do século passado me dói ainda na alma a herança de tanta exclusão, violência e outros tantos atos atrozes cometidos por uma sociedade terrivelmente machista desde a chegada dos Europeus nas Américas ou ainda na mãe África matando culturas de muitos povos que se constituem matriarcais em seus berços, a lenda das Amazonas, por exemplo, até hoje ainda é revivida pela cultura Caiapó em que as índias anualmente celebram o “Mebióki”, o ritual das Amazonas, que se realiza em época lunar específica, quando tomam uma postura mais ativa e valente, abandonam seus clãs e invadem a “casa dos homens”, uma organização proibida ás índias. Genial a ancestralidade matriarcal que se revive.

Ou seja, as mulheres Kaipó da forma delas estão ali afirmando um empoderamento feminino dentro uma sociedade hierarquizada pelo papel masculino nesta sociedade em que fazem parte.

No âmbito da sociedade civil as mulheres, assim como as índias Kaipós com muito suor, lágrima e alegria tentam revisitar as icamiabas existentes dentro delas na luta por acesso não somente aos espaços, mas pela equidade de direitos. Bingo! A palavra que pra mim define bem o termo “empoderamento feminino”: igualdade direitos. E as sociedades matriarcais dos povos referidos acima, a exemplo do mito das Amazonas ou as sociedades matriciais africanas foram as que tiveram mais próximas do exercício dessa igualdade direitos. Não à toa que Elisa Larkin Nascimento em sua obra " A matriz africana no mundo" provoca sobre qual civilização mais avançada, a matrilinear que exercita direitos mais igualitários entre os gêneros garantindo o papel de todos na vida coletiva ou a que nega à metade da população sua plena condição humana?! Elementar que as sociedades matriciais são mais justas.

Enfim, todo esse preâmbulo nos ajuda entender de que forma o tarot na cultura ocidental pôde e poderá sim servir como uma ferramenta de empoderamento feminino a começar pelo entendimento que o Tarot de Marselha que conhecemos hoje tem em suas origens nos séculos XIV, XV, ainda no período medieval, e apesar da conjuntura das trevas que censurava e enquadrava a mulher como ser dócil, recatada e do lar, já trazia em sua composição vários arquétipos que buscam afirmar a representação feminina numa sociedade extremamente machista e cristã. Ou seja, o tarot, além de um oráculo para alguns, instrumento psicanalítico para o entendimento do inconsciente coletivo, especialmente, aos “junguianos” ou ainda ferramenta de autoconhecimento e orientação dos possíveis caminhos sincrônicos dos tempos (passado, presente e futuro) para outros, o tarot foi um uma ferramenta sim visionária e para além do seu tempo no que diz respeito a afirmação da representatividade feminina nas cartas, especialmente, na composição dos seus 22 arcanos maiores.

Dos 22 arcanos maiores 8 são arquétipos de representações femininas: A sacerdotisa, a imperatriz, a força, a justiça, a morte, a temperança, a estrela e a lua.

Para não me estender muito mais do que já me estendi para responder uma pergunta feita na fanpage do Semeadura sobre de que forma o Tarot é ferramenta de empoderamento feminino, vou tratar rapidamente sobre dois desses arcanos femininos que ajuda a mulher se impor enquanto ser mulher, intuitiva e sensível, mas forte, objetiva e sábia numa sociedade que historicamente como vimos acima se fez machista, patriarcal e racista. A carta XVIII (Lua) e Carta XI (A força). Essas duas cartas, assim como as outras 6 são ótimos exemplos de poder feminino, contudo escolhi a carta XVIII pelo aspecto ambivalente desse arcano. A Lua é simbolicamente associado e reverenciado a deusa das culturas pagãs, especialmente, pelos wiccanos, a Lua, nesse sentido, é a grande Mãe a que acolhe, absorve, mas que também pode ser extremamente severa com quem lhe invade o útero, remete ainda o signo de câncer, as yabás Yemanjá/Oxum e a esfera Yesod da árvore da vida.

A natureza feminina lunar é reativa e vingativa digo não no aspecto mesquinho do homem do “prato que se come frio”, mas na perspectiva dos caminhos do tarot conectada com outra carta feminina, a da Justiça (VIII) onde a balança que registra a transgressão e executa a espada sobre a obsessão, invasões e furtos na casa da lua ferina, pois até chegar nela, a Morte (XIII) e a Temperança(XIV) equilibradamente já deliberaram em sua causa. Nesse sentido a Lua é um incentivo ao enfrentamento passional, sensível e intuitivo diante dessa mesma sociedade paternalista que busca castrar/invisibilizar sua sexualidade, diminuir seu tamanho e silenciar sua voz.

E caminhando para concluir a questão medito sobre a carta da força (XI). Uma das minhas cartas preferidas, pois ela diz muito do ser feminino que foi construído para ser frágil, passivo, secundário, especialmente neste período de meados do medievo em que as cartas se expandiram na Europa com maior popularidade, contudo no tarot, a Força é representado por uma mulher que de nenhuma forma usa a força física, como geralmente fazem os homens na sociedade para expressar que são fortes e dominadores, a Força é representada por uma mulher com o símbolo do lemniscata na cabeça que remete equilíbrio ritmico e dinâmico entres dois pólos opostos, um oito deitado que a matemática aponta como o símbolo do infinito. Dessa forma a mulher dotada de toda essa sabedoria, ela não somente consegue derrotar o leão, que dependendo do contexto pode ser aquele pai opressor, o sabotador ou o manipulador, como bem pode dominá-lo sutilmente abrindo sua boca e o colocando no seu devido lugar.

Que prova maior do que esta referente ao processo para se adquirir Força e conseguir se recuperar, cura-se e lutar contra seus opressores (Leão) ou sobre sua própria (auto) opressão para garantir sua existência, suas realizações e seu amor (próprio) tão importante para a mulher dentro e fora do lar para a garantia do seu empoderamento feminino?!

E por fim gostaria de lembrar de uma outra carta que gosto muito a carta XXI, uma das mais positivas do tarot, uma carta de simbologia andrógina, de harmonia, realização e conclusão de ciclos conectada com um ser em que as figurações masculinas e femininas se fundem num indicativo de UNO, um toque da criação, das faces maternas e paternas do Cosmo. A redenção. A chegada na reta final equilibrado(a) em suas duplas polaridades e identidades, afinal a ideia evolutiva e libertadora é se fazer uno, ativar a centeia do Criador e da Criatriz. E não se perder no debate de quais são os sexos dos anjos. Equidade de direitos, ser mulher empoderada, forte e feliz é bem mais importante e prioritário.

O tempo urge.

Mas se queres paz, prepare-se para guerra..." 

"Arreda homem que aí vem mulher!" Bem canta as Marias Padilhas..


 

 

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