Memórias do dia 23 de abril de 2013 (Ogum e Umbanda)

23/04/2017 17:14

Por Alanna Souto

O texto CRÔNICA DE UM SANTO GUERREIRO- DE SÃO JORGE A OGUM escrevi num momento bem particular da minha vida. Momentos de rompimentos muitos dolorosos, decepções que ferem a alma e mesmo após de saradas as cicatrizes estão lá.

Marcas que ficam não para alimentar rancor, mas sim para te lembrar e te mostrar o que não deve nunca ser...te lembrar de quem as fez. E se manter longe dos olhos, das mãos, da vibração, do campo de influência daquele que lhe foi seu algoz mais cruel. Mais do que isso lutar para não se tornar ou cair na mesma armadilha da cobra que te picou e tentou diversas vezes te afogar mesmo fora do aquário. Coisas que já não me alcançam mais, mas serve de reflexão.

E assim construir meu próprio quilombo entre hidras e pântanos a partir de uma egrégora simbólica dificultando e afundando as forças fanáticas demoníacas e mistificadoras que tentam invadi-lo, diga-se de passagem vampiros religiosos disfarçados de “matentas” que já há muito tempo desconhecem e se desconectaram da lei divina em ação.

O firmamento com aquela super estrela 4D, stellium, o útero cósmico que gerou o universo numa grande explosão, alguns chamam big bang, outras chamam da grande criação divina de D`us. De todo modo a conexão com aquel@ que é todos gêneros, todos os sexos, todos as cores, todas as classes...e de todos os caminhos que levem até Ele(a) é o que nos torna “divinos” e de alguma forma imbatíveis.

Afinal nós que seguimos devotos do santo guerreiro caminhamos muito bem blindados, “vestidos com as roupas e as armas de Jorge. Para que meus inimigos tenham pés, não me alcancem. Para que meus inimigos tenham mãos, não me peguem, não me toquem. Para que meus inimigos tenham olhos e não me vejam. E nem mesmo um pensamento eles possam ter para me fazerem mal...”

A religião faz parte do estado em sociedade. É um dos matizes culturais que marcam a humanidade e nos diferencia dos outros seres vivos, incluindo, o ateísmo que não deixa de ser uma “crença”, assim como as outras, passível de fanatismos.

Contudo, avalio hoje que o campo das religiões que envolvem ritos magísticos a responsabilidade ainda é maior para consigo e para com os outros, pois nelas o pensamento “mágico” ou “esotérico” de repente pode desequilibrar dos seus pés no chão. E ser sequestrado por uma outra coisa que irá te afastar do senso crítico e te fechar dentro de uma caixa vazia e sem luz. Fazendo o contrário da alegoria da caverna. Em vez de libertar, aprisiona! E pior ainda corre-se o risco de sofrer da síndrome de Estocolmo. Apaixonar-se por seu próprio algoz.

Um templo que se forma ou se direciona nesta perspectiva sombria, fechada, dogmática, totalitária e fantasiosa está cavando não somente sua própria cova e do seu dirigente até aí seria tudo bem, cada um faz o que quer de si mesmo, livre arbítrio nos foi concedido desde os primórdios, contudo levar centenas de inocentes úteis ligados a sua caverna escura para a forca já se torna um crime hediondo universal.

Diante de tantos desvios e “crimes” recorrentes no processo de religare que tem ocorridos à olhos nus em supostos templos por aí me faz refletir que um templo sagrado deve ser antes de tudo uma “escola”. A formação e a direção de qualquer círculo sagrado deve advim de uma longa caminhada gradual de estudo de si mesmo, dos diversos caminhos e da escola espiritual que abraça.

Quando digo o estudo de si mesmo, não estou querendo dizer algo novo ou revelador, aliás os caminhos espirituais mais antigos e milenares já recomendam o autoconhecimento como uma forma de se corrigir e se libertar. E se ainda estamos tão presos numa personalidade egocêntrica ou até mesmo narcísica como então se colocar orientador, mestre de alguém se ainda está completamente preso a si mesmo? Por mais que se tenha uma super mediunidade, contudo cheio de ranços, recalques, carências, ou ainda dos piores desequilíbrios, a sexualidade mal resolvida ou castrada...eis a questão.

Uma mensagem do Paulo Freire, digo o educador original, não os que se acham dono do seu conhecimento por ter escrito uma tese ou algo do tipo, mas acabam indo na contramão da postura auto crítica e auto transformadora que se propôs o educador para si e para sua pedagogia da autonomia. E na realidade são apenas mais um doutor da (ego)educação popular e das periferias. A esquerda macho que se coloca como inclusivo dos excluídos e do papel da mulher no espaço social, quando no máximo as portas abertas é para seu círculo familiar. Triste e previsível. Além dos típicos fetiches clichês com mulheres LGBT da ala intelectual que certamente em sua maioria não precisa deles para abrir qualquer coisa que seja. Livres, produtivas, competentes e autônomas. Nesse sentido gosto muito de Paulo Freire e bem pouco do seus supostos discípulos, obviamente, que há exceções sem mencionar nomes para não cair no erro de esquecer alguém. Sem contar que ainda estou observando se os discursos desses são coerente com a prática. Ou só capa...

Enfim, retomando, ao recado que o Freire deixou em algum dos seus livros ou em algum seus dizeres orais que não me recordo agora é quando ele reflete sobre o papel do professor de forma comparativa com o papel do médico num país que glorifica e valoriza mais um “capa branca” que tenta salvar vidas diariamente do que um “capa branca” da educação que tenta salvar não somente uma vida, mas salvar gerações. Assim Freire diz quando um médico erra mortalmente ele estará matando uma, duas vidas, contudo quando o professor erra ele não estará matando uma ou três vidas, estará chacinando gerações, logo fabricando uma nação habitada por zumbis gestada por governantes zumbis.

Entendo que ele não quis dizer com isso que o médico deve ser desvalorizado. Pelo contrário que deve ser muito valorizado, mas tão valorizado quanto médico deveria ser o professor.

E ser professor é uma coisa. Ser mestre é outra coisa como já refleti num texto anterior AOS MESTRES COM CARINHO. Terapia pode ajudar sim, Freud até sinaliza para o problema, mas o que ajuda mesmo vencer o Caim interno, os dragões sombrios, a cobra venosa, o anjo luciférico, as depressões, as bipolaridades que habita em cada um de nós é uma grande reforma íntima.

É desta ação que poderá resultar não somente sua mudança, mas a grande revolução do mundo. Desde dos tempos agitados de “maio de 1968” quando a espiritualidade milenar mais meditativa ganha espaço no movimento cultural é que já se percebia que revolução é de dentro para fora. E as bandeiras da conjuntura político-econômica bipolar que marcavam a guerra fria já não mais representavam e saciavam aquelas gerações. Sedentas de água limpa, cristalina, “curativa”, transformadora e libertadora.

Como bem já disse o sábio mestre Krishnamurti[1] (1976) em A educação e o significado da vida:Os sistemas, quer educativos, quer políticos, não se transformam miraculosamente; só se modificam quando há em nós uma transformação fundamental. (p.14)”.

A mudança de atitude interna com uma orientação adequada é que pode fazer todo diferença em nossa vida e para a Terra onde vivemos. Pode ser a mão de Jung que vai além de Freud; pode ser a mão de Kardec; a mão da Kabbalah e sua A verdade sobre os anjos ; a mãe do Krishnamurti ou ainda as mãos dos mestres e mestras dos povos tradicionais de terreiros, também podem ajudar a “descarregar” e abrir para um “outro” mundo.  Caminhos são diversos,todos levam a um só rio, contudo a mão que escolhes segurar e te conduzir até o porto é que fará toda diferença para não entrar em barca furada.

Salve o dia 23 de abril.

Salve o senhor do caminhos.

Oguniê patacori!

 


[1] KRISHNAMURTI, Jiddu. A educação e o significado da vida.4.a edição. Editora cultrix. São paulo.1976.