MEDIUNIDADE E SUAS ARMADILHAS
Mãe Ita[1] nos fez refletir na última terça-feira de estudo dessa semana sobre as armadilhas mediúnicas. Sabemos que a mediunidade é um estado natural da humanidade, como já bem conceituou essa mestra da espiritualidade, mas então do que se tratariam essas armadilhas?
Armadilhas referem-se às fraquezas e os desafios os quais cada médium, dentro ou fora de uma corrente mediúnica tende a enfrentar no decorrer da sua trajetória ‘magística’ de desenvolvimento espiritual, incluindo o babalorixá ou a yalorixá (pai ou mãe de santo respectivamente) que dirige um templo sagrado, diga-se de passagem, é um ser humano passível de erros, desejos e limitações como todos nós, contudo com uma grande diferença, além da hierárquica, de estar ‘administrando’ vidas, (re) formando e orientando gerações por meio do seu canal mediúnico, sendo assim tanto o curador quanto o educador espiritual. Ou seja, a ‘cobrança’ divina e humana a esses sacerdotes certamente é maior, bem como a dedicação e a renúncia.
Tais ciladas estão entranhadas naqueles pecados capitais que mais assombram a humanidade, em especial, o egoísmo, o orgulho e a vaidade, três grandes monstros que adoecem a alma, conseguindo adentrar em vários aspectos da vida humana: espiritual, intelectual, afetiva, sexual, assim por diante.
Na vida espiritual a vigilância deve ser mais que cerrada, sobretudo, porque o médium à medida que se desenvolve dentro de um templo, independente de fazer parte de uma corrente mediúnica, irá cada vez mais aperfeiçoar seu canal de comunicação com o ‘mundo oculto’, uma espécie de rádio que poderá captar tanto altas como baixas frequências vibratórias, tanto ‘luz’ como ‘trevas’, a defesa encontra-se justamente na eterna busca do equilíbrio e da autoanálise. Caso erre, deve reconhecer o equívoco, meditar sobre a recorrência desse erro em sua trajetória de sacerdócio mediúnico, tomar como desafio o controle de suas fraquezas até liberta-se finalmente delas, podendo assim render várias reencarnações.
Dentro de uma corrente mediúnica os vacilos com o ego são diversos podendo ser sutis como grotescos, alcançando tantos médiuns iniciantes quanto os antigos. Para os iniciantes sempre o desafio maior é vencer a ansiedade e o deslumbramento pela mediunidade de ‘incorporação’ a vontade desmedida em dar passagem para todos os guias de aruanda, muita calma nessa hora! Na maioria das vezes, lembra mãe Ita, o médium passa anos trabalhando com um determinado guia a fim de fortalecer o equilíbrio mediúnico do ‘aparelho’[o médium], bem como o casamento fluídico entre guia e médium. É importante ter clareza que não passamos de um canal de comunicação com o divino, todo trabalho, demandas, limpezas, desobsessão e curas que ocorrem no espaço sagrado, são trabalhos realizados pelos guias, pelo Divino e Maravilhoso, seja irradiando um médium consciente ou aparelhando no caso da mediunidade semiconsciente. Para o médium antigo o risco torna-se maior quando esse passa a se ‘achar’ auto-suficiente , considerando-se capaz de resolver tudo ou cometendo a insanidade de fazer ‘justiça’ com as próprias mãos, óbvio que já nesse estado o médium já não está mais conectado com seu guia, mas sim com forças obscuras que estão lhe direcionando para longe da orientação da luz divina.
Em momentos de desequilíbrios dentro e fora do templo, pois não podemos perder de vista que o médium é um ser humano e vive em sociedade, num sistema ilusório é verdade, como já sabemos, mas o neófito ou mesmo os já iniciados na magística da lei divina em ação vivem o desafio de se libertar dessa ilusão, de romper com máscaras sociais, públicas e privadas. É justamente nessa conjuntura de desajustes que os mestres da espiritualidade aparecem nos apontando nossos limites e freios, sem julgamento moral, mas sim nos direcionando para um caminho mais consistente e sóbrio, mostrando-nos por meio dos espelhos da alma os ‘monstrinhos’ os quais carregamos dentro de si e que devemos reconduzir a ‘espada’ espiritual ou material/carnal nas vestes de nossa saia ou de nossa calça, levantando-a quando realmente for necessário ou por uma causa justa ou mesmo por um sentimento nobre, aliás não dar pra sair conquistando o mundo sem formar um exército bom e de real nobreza.
Nesse sentido buscar ‘autocontrole’ de seus desejos desenfreados é fundamental, sem perder a autenticidade de vivê-los com parcimônia e equilíbrio, sem se castrar com medo de viver a sua real essência, sem se esconder por trás de qualquer coisa, a citar: família, filhos, religião, emprego.... Por mais nobre que seja ‘ofício’ exercido, ninguém foge da sua natureza, um dia a casa cai ou na pior das hipóteses, passará o resto da vida sustentando uma farsa, anulando desejos e sentimentos, vivendo de obrigações e funções, solitários em suas bolhas da comodidade e do conforto. Quebrar o universo das aparências, portanto, sem dúvida alguma é um passo essencial para o caminho da libertação e na trajetória de retorno ao ‘mundo real’. Para tanto é necessário sim remodular nossos instintos em prol de um sentimento/desejo mais duradouro, consistente e real, seja num compromisso de amor ou de amizade, de cara limpa, sem medo de ser feliz.
Finalmente façamos um alerta a dois extremos da vaidade que fazem muitos médiuns caírem ou escamotearem suas realidades, justamente pelo seu aspecto mais sombrio por deturparem a ‘moral divina’ que não julga, mas sim nos aponta caminhos para irmos em busca da real felicidade, sem enquadramentos ou padrões, ‘certo’ ou ‘errado’, são elas: ‘a vaidade moral’ e ‘a vaidade imoral’. A primeira é aquela onde a pessoa se coloca numa espécie de pedestal, nada faz e tudo evita para viver algo que possa manchar sua imagem, sua reputação, morre de desejos, paixões e quem sabe até amor, mas não vive nenhum por mais verdadeiro que seja tais sentimentos, limitado, acumula [in] conscientemente recalques e simula felicidade. A segunda, ‘a vaidade imoral’ é o oposto da primeira, aquela pessoa a qual vive a ilusão que tudo pode fazer, seja no campo afetivo, sexual ou até material, sai conquistando ou cedendo a ‘tentações’ impulsivamente, consequentemente magoando e passando por cima dos sentimentos alheios, sem limite, pior ainda quando o sujeito [independente de gênero] faz tudo isso sob a ‘capa’ de ‘bom moço’ ou ‘boa moça’. Dois extremos perigosíssimos que só os espelhos da alma em sua doce ou amarga correnteza pode nos mostrar e reconhecer essas ‘deficiências’ é o primeiro passo rumo à reforma interna, a real transformação e ao despertar da verdadeira essência. No geral para quem vive a ‘vaidade moral’ o processo de reconhecimento dos seus tumores [pseudos] morais é extremamente doloroso, o rompimento mais complicado, gradual e muitos, na maioria das vezes, prosseguem na caminhada espiritual sem fazer essa tão importante transformação e o mais interessante de tudo é o respeito dos guias diante do livre arbítrio de seus ‘filhos’, enfim, ‘cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é...’ e até aonde pode suportar , não obstante as inúmeras provações carmicas, amor e dor.
O ideal, segunda mãe Ita, seria cada vez mais buscarmos uma conexão divina mais elevada, assim como fazem os monges que renunciam, de forma natural, os valores carnais e materiais. Bom, mas sabemos que mesmo para chegarmos nesse nível precisamos de uma longa caminhada de autotransformação, pois não se nasce monge, com exceção dos Lamas, todos devem passar pela escola preparatória espiritual, inclusive, os sacerdotes, afinal o desenvolvimento evolutivo não para...é perene.
Saravá!
Alanna Souto
05 de setembro.
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