SOBRE MEDIUNIDADE
Mediunidade, conforme pontua mãe Ita, é um estado natural de todo ser humano. Uma lei amparadora aplicada a nós humanos para que possamos ativar o canal de comunicação com o divino na busca do resgate interno por meio da magia e do processo iniciático, ‘trabalho, cura e libertação’.
Percebe-se, assim, que todos nós seres humanos, somos médiuns, dotados dentro de cada um de nós dessa partícula divina que nos servirá de elo comunicativo com o sagrado, alguns já nascem com seu elo ativado, que é o caso da grande maioria dos pais e mães de santo, que no geral manifestam sua mediunidade, de maneira muito intensa, desde muito cedo, ainda na fase da infância. Outros podem desenvolver uma vidência, outros a audiência ou mesmo a premonição em sonhos.
O certo é que todos nós temos a mediunidade, obviamente, alguns de forma mais intensa, outros de forma mais sutil... O que devemos fazer então é buscar desenvolver nossa mediunidade de forma equilibrada seja por meio de banhos de coroa, limpeza do corpo físico e astral nas sessões desobsessão nos templos.
Há três tipos de mediunidade referente ao que se chama popularmente de ‘incorporação’: Consciente, semiconsciente e inconsciente.
A consciente, que é uma mediunidade mais recorrente, é aquela na qual o médium lembra-se das ações durante o transe mediúnico, pois não ocorre o afastamento do duplo etérico [corpo vital astral, digamos assim], o corpo mental é possuído pela entidade e não há aparelhamento entre o guia e o médium. E conforme o tempo o casamento fluídico guia/médium vai se fortalecendo.
Semi-consciente,é uma mediunidade mais recorrente entre os sacerdotes e sacerdotisas, é aquela na qual o médium lembra-se parcialmente de algumas ações durante o transe mediúnico, ocorre o afastamento do duplo etérico e o aparelhamento entre médium e guia, afeta o biológico, atinge a fala e a memória.
O inconsciente, é uma mediunidade mais rara, ocorre o afastamento o duplo etérico, atinge-se a memória de forma mais intensa e o médium não se lembra de nada.
Devemos ter cuidado também com alguns pensamentos distorcidos em torno da mediunidade e do serviço numa corrente mediúnica.
Primeiro, mediunidade não é poder, como falei inicialmente, trata-se de um estado natural da humanidade e que deve ser desenvolvido em prol do resgate interno por meio da magia e do processo iniciático. Ou seja, não é nenhum mecanismo de superioridade diante de outras pessoas que não estão se desenvolvendo da mesma forma ou na mesma frequência, mesmo porque cada um tem seu ‘axé’ para ativar a partícula divina mediúnica, só basta fazer a busca e dar os passos iniciais em direção ao caminho de volta.
Segundo, fazer parte de uma corrente mediúnica, não resolverá as problemáticas materiais, familiares e afetivas de ninguém. Alimentar essa visão utilitarista em torno do ‘servir’ na umbanda só irá ainda mais cavar um buraco negro em sua própria vida, inclusive atrapalhando sua vida espiritual. O que podemos fazer enquanto umbandista para equilibrar nossas vidas na ‘caixinha’ ilusória em que vivemos é tentar harmonizá-la por meio de nossa revisão interna, enquanto ser humano, na eterna busca da humildade, lealdade e obediência. Alimentar os orixás, os guias através de seus fundamentos, obrigações e oferendas. Se estiver com problema na vida material ‘arreia-se’ uma obrigação pra Exu; se tiver algum problema na justiça, nos estudos, ‘arreie’ uma obrigação pra Xangô; se estiver se sentindo desequilibrada emocionalmente, ‘arreie’ uma obrigação para pomba-gira... Caso não tenha condições financeiras no momento para ‘arriar’ as obrigações com os elementos naturais necessários, acenda uma vela e converse mentalmente com o guia, peça ajuda, misericórdia... Com certeza, o ‘Divino Maravilhoso’ lhe escutará e no momento certo lhe atenderá, basta perseverar, faço o ‘ritual’ quantas vezes sentir que é necessário.
Como médiuns de uma corrente umbandista devemos ter muito cuidado em não ‘glamourizar’ a corrente, afinal não se trata de nenhum espetáculo, pode até ser óbvio, mas ainda há muitas confusões em torno do guia e do médium que é um simples canal de comunicação. Outro cuidado que se deve ter é com a questão das vidências... Tanto as vidências feitas por um médium ou por um guia a respeito de alguma coisa relacionado a sua vida ou de qualquer outra pessoa são apenas com intuito de lhe revelar as causas de alguns transtornos ou outros males que estão lhe atacando para então desfazê-los por meio da boa magia. Buscar numa corrente mediúnica adivinhações fúteis a respeito do futuro, sobre o vizinho ou alguma banalidade da vida afetiva ou profissional vai à contramão do que a Umbanda propõe: trabalho, cura e libertação...para os viciados em futuro, mãe Herondina, recomendou uma vez e creio que recomenda sempre, procure uma cartomante, pois as cartas, para além de nos orientar espiritualmente,revela desde os aspectos mais profundos e importantes de nossas vidas até a futilidade que mais nos assola. É importante lembrar, também, que mesmo as cartas se muito usadas para fins banais passarão não mais de lhe responder.
E por último faço o alerta para todos aqueles médiuns de incorporação,não devemos forçar tal ação mediúnica, referindo-me mais uma vez a mãe Herondina, que me disse há tempos atrás, que o processo deve ser natural como um rio, superar a desconfiança dos olhos míopes canais que estão a nos observar, dentro e fora da corrente. Antes de tudo trabalhar com amor e honestidade ... Evitar procurar provar na marra que se estar com um guia fazendo estripulias ou se esparramando no chão na hora ‘desincorporação’, isso só enfraquecerá o casamento fluídico entre o médium e o guia.
Faz-se necessário também informar às faixas ou ‘graus’ que cada médium da corrente desse templo[Tenda de Umbanda luz do Oriente] possui em sua espada, não existindo assim hierarquia nas mesmas e sim corresponde o momento que cada um está passando. O médium da faixa verde, o guia trabalhará fazendo limpeza e o descarrego; O médium da faixa verde e rosa, além da limpeza e descarrego, o guia poderá comunicar-se por meio de uma mensagem positiva ou um alerta responsável sobre alguma situação referente às pessoas que está atendendo e o médium, da faixa verde, rosa e amarelo, além das limpezas, mensagens, alertas,o guia poderá fazer consultas e passar trabalhos as pessoas durante o atendimento.É importante sim informar a função de cada faixa para que não haja algum melindre se um guia, por exemplo, que está a trabalhar num médium de faixa verde ou num de faixa verde e rosa encaminhar o ‘paciente, digamos assim, para um outro guia que está trabalhando num médium de três faixas para uma consulta ou passar algum trabalho.
A hierarquia existe sim, mas ela começa do ALTO, de Oxalá, nossa Pai Criador, para os outros orixás co-criadores e guias e nos templos por meios de nossos sacerdotes, sacerdotisas, mães e pais de Santo, pilares de um templo, na corrente mediúnica a hierarquia começará a se formar, talvez, por meio da obtenção do nome iniciático dado por seus mestres, mas isso é um capítulo a parte de muitas terças-feiras de estudos com a nossa mestra cabocla Ita.
Saravá a todos
Alanna Souto
Tópico: MEDIUNIDADE E OS 'GRAUS' NA TENDA DE UMBANDA LUZ DO ORIENTE
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