MAPA DE JÚPTER

26/09/2015 18:47

 

MAPA DE JÚPTER

POR ALANNA SOUTO

 

Nunca o tempo esteve tão evasivo ao passo que tão intenso no seu efêmero decurso. Há dias que o peito aperta, uma saudade de um não sei o quê...algo de outro mundo, quiçá. Creio que essa nostalgia todos sentem esse “não sei o quê” que faz chuviscar os olhos de emoção...visões limitadas confundem com tristeza. Não é...a emoção é maior que o deprimir, a emoção é expansiva, expressiva e divina.

Uma necessidade incrível de correr e realizar, compartilhar, ser uma gota bruta de chuva que cai no mar, estremece os lençóis oceânicos, perfura o fundo e encontra a terra do fogo primordial.

Uma sensação cada vez mais forte de ir com o relógio cronometrado até a linha de chegada, nesse meio tempo, criar, construir e finalizar. Apesar de um receio tremendo de perder o caminho de volta para casa para continuar a criação.

Não estou em nenhum campeonato para quem possa estar imaginando algo desse tipo, mas concordo com você, o mundo vive num eterno estado bélico do competir vencer os outros, do populacho de rua, com suposta coroa de democrata do povo ao invólucro do elitismo das masmorras do saber regido pelas normas da ABNT, tudo tão démodé . No caminho do meio há os senses , aqueles conectados com o intocável, o indizível, os filhos e filhas da grande mãe, os detentores da chave das quatro letras, não somos melhores, nem piores, apenas não entramos nessa competição externa, vazia e superficial porque no fundo, no fundo ninguém quer trocar de roupa ou aparar a juba...E os senses são seres nus que vivem a modificar suas vestimentas, o que causa estranhamento, alguns nos consideram individualistas, outros ficam curiosos e buscam entender a proposta que é muito simples: mude a si mesmo...

Alguém muito louco e talentoso escreveu que bastava ser sincero e desejar profundo para ser capaz de sacudir o mundo, foi o mesmo cara que há dez mil anos atrás descobriu antes da ciência a fórmula de transformação da borboleta! Ou seja, antes de tentar outra vez é preciso entrar em estado de metamorfose ambulante. Um processo endógeno e exógeno doloroso, mas o resultado é recompensador. Dantes a morte do que a queda fulminante da torre sob raios e trovões, estrondos do céu, chuva de granito, dizem não ser tão agradável, mas também é libertador, logo após pode passar para a próxima fase, caso tenha aprendido a lição e encontrará sua estrela brilhante, verdadeira, aquela da carta XVII.

(Pausa) Parei e passei a cerinha de menta no aparelho do dente para amortecer o contato com os lábios, pensei num beijo apaixonado com aquele sabor, minha língua lambia sua boca, limpando todo aquele veneno que a sufocava...Naquele momento percebi que já não sabia mais se ainda te amava, percebi que eu já havia corrido para outra direção, estava indo embora, mas invoquei toda guarda para lhe resguardar, escoltar e lhe deixar livre para caminhar. Como torço para que consigas, meu amor, consigas sentir o sabor da liberdade e de viver sem medo, sem culpa.

O alarme do relógio toca ás 18h00, já é outro dia lá no Japão ou em Israel e penso como sentiria falta da minha mãe do outro lado do mundo.

Faço parte da espécie de marcianos que ainda sentem muito falta do leite materno. De uma raça de adultos guerreiros bebês, meio inseguros que para conter seu nervosismo se jogam nas grandes batalhas e se emociona com a arte ou com uma declaração de amor...um tipo de recém-nascido antigo que preserva a sua inocência e lança as dez pragas do Egito para libertar aqueles que ama, talvez porque meu D`us é menino, o divino que sorrir e brinca. O divino que zanga e quebra tudo, a eterna criança. Fernando Pessoa também foi seu seguidor.

Retorno da pausa para a meta como todo ser focado e teimoso, apesar da distração me atrair tanto quanto o foco. Assim como a necessidade do ócio e do produzir.

Começo assim a desenhar o mapa do caminho de volta para casa à medida que me distancio do lar para o grand finale, a chegada de outro tempo.

 

Tópico: MAPA DE JÚPTER

Positividade

Anízio Guimaraes 02/10/2015
Poético e até mesmo inspirador, mandou bem Alanna!

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