ERA TEMER, FHC E A ESQUERDA PATERNALISTA NO BRASIL

04/06/2017 22:13

 

Por Alanna Souto

Desde a ditadura militar no Brasil nunca a população brasileira havia sido tão amordaçado em seus direitos como está sendo agora, nem no auge do neoliberalismo do sociólogo douto Fenando Henrique Cardoso que libertava o mercado para tudo, especialmente, para o capital estrangeiro, contudo as massas continuavam pisoteadas por uma socialdemocracia que passava longe do Estado Bem Estar Social e estava mais próximo do totalitarismo do capital privado que pouco pensa em direitos e inclusão social. Percebe- se que cada uma dessas conjunturas poucas conhecem o saber e o sabor da práxis democrática , muito menos os “democratas” que implementaram o Plano real.

Nos anos de 1990 os movimentos sociais da cidade e do campo em todo Brasil foram massacrados pela “democracia” tucana, não tem como esquecer do massacre do dia 17 de abril de 1996 em El Dourado do Carajás no sul do Pará no qual 19 trabalhadores sem-terra foram assassinados pela PM do Estado do Pará no governo do finado Almir Gabriel, que certamente deve estar amargando pelos seus pecados capitais nos umbrais mais tenebroso do pós-morte; outra violência desses tempos dos “democratas” no ano anterior ao do El Dourado de Carajás foi o massacre dos camponeses de Corumbiara em Rondônia, quando no dia 14 de julho de 1995, centenas de famílias foram em rumo de seus sonhos pela “terra prometida” e ocuparam parte da fazenda Santa Elina, após um pouco mais de 15 dias, no dia 09 de agosto foram massacrados por capangas e policiais, mulheres abusadas, crianças espancadas, não havia humanidade, apenas uma crueldade demoníaca que tomou conta do sonho daqueles camponeses...Enquanto isso FHC e seus correligionários seguiam com o Plano Real longe da realidade das massas do campo, contudo garantiu sua vitória presidencial em 1996.

Não à toa, os movimentos do campo organizaram inúmeras marchas, sob uma forte disciplina “militar” de luta (a la Ogum dos quilombos) e caminhadas contra a política do FHC que implementava o desenvolvimento econômico do país para grupos reduzidos, logo nas eleições de 1995, o MST usou como slogan Reforma Agrária: uma luta de todos! Tal palavra de ordem representa uma mudança estratégica da perspectiva política desse Movimento. 

Neste momento os trabalhadores sem-terra adquirem a consciência mais amadurecida de sua própria classe em que percebem que o movimento deve construir uma grande rede de articulação que envolva toda sociedade. Sendo um momento da história que o MST ganha mais reconhecimento no âmbito social. No ano 2000 o slogan adotado foi Reforma Agrária: Por um Brasil sem latifúndio, fazendo alusão para o fim das terras improdutivas e o cumprimento da constituição de que as terras devam cumprir sua finalidade social.

E finalmente chegamos no ano de 2003, o ponto onde quero chegar nesse diálogo comigo mesmo e com vocês do outro lado da tela. Esse ano é marcado pela grande vitória do Partido dos Trabalhadores (PT) que chega ao Poder Executivo nos enchendo de esperança. Que lindo! A esperança se renovava. Lula garantiu para direção do país os investimentos mais profundos nas áreas sociais, diferente de FHC que reduzia a presença do Estado na economia, na era Lula foi a vez do nacional-estatismo marcando a condução econômica do Brasil. Em menos de 8 anos Lula conseguiu combater e reduzir o índice de pobreza que crescia de forma desigual no país. Tendo os piores índices apontadas pelas organizações de desenvolvimento do mundo, especialmente, nos anos de 1990. Tais ações garantiram a vitória de sua sucessora em 2010, Dilma Rousseff, apesar da crise do mensalão, aliás que dia histórico para o país, uma mulher no Poder, não qualquer mulher, mas a mulher! Com histórico de guerrilheira contra a ditadura militar. É a nova gestora do nação. Uma mulher que não se encaixa no padrão da sociedade. Não tem marido, cabelos curtos e dizem ter uma postura rígida, disciplinar em sua gestão, mão de ferro.

O Brasil da Era Dilma já estava com sua cova preparada quando chegou no Poder por todas as alianças espúrias que o PT seguiu fazendo, a presidente Dilma chegou amordaçada e refém de uma estrutura que já não tinha mais domínio. E assim várias pautas populares, com os povos indígenas e com as comunidades tradicionais, especialmente, no que diz respeito a garantia dos direitos territoriais pouco se avançou ou se fez para garantir suas terras e seus direitos de vida...

Para os indígenas, ribeirinhos, povos de terreiros, quilombolas contemporâneos, sai governo e entra governo, nada, de fato, muda, revoluciona a vida dessas pessoas da forma que elas precisam e buscam na sua luta diariamente, a garantia do que são deles por lei e direito. Não se trata de reparação histórica, mas de garantia de direitos, já diria o grande mestre Alfredo Wagner, pioneiro do Projeto Nova Cartografia Social da Amazônia (PNCSA) que mais do que governos conseguiu a proeza e astúcia de inserir essas comunidades em uma grande formação sobre os domínios de seus territórios a partir das (auto) cartografias as quais servem até mesmo como documento em conflitos jurídicos.

A ciência que estás comunidades fazem é uma outra tecnologia que subvertem a lógica de uma ciência cartesiana. A cartografia corográfica e etno-histórica dos povos é, também, ciência tanto quanto uma fórmula de física; é tão cartográfica quanto um mapa técnico com todos seus gráficos, latitudes e longitudes.

 Os povos de sabedoria tradicional não depositam sua esperança em bandeiras partidárias ou personalidades. Os povos indígenas e comunidades tradicionais depositam sua fé em seus pares que se organizam no dia-a-dia para garantia de suas existências e resistências. Afinal, não se pode esquecer que foi na era Lula/PT que o projeto Belo Monte, a gigante hidrelétrica foi construída, deslocou e prejudicou milhares de povos indígenas e a própria população local.

Lideranças quilombolas são assassinadas ou ameaçadas de morte, e geralmente, o que prevalece é impunidade. A morte de seu Lalor, liderança quilombola da comunidade de Gurupá em 2014 só foi mais uma dentre tantas lideranças mortas por arregimentar sua comunidade contra as arbitrariedades de fazendeiros e empresários no mercado de sangue do agronegócio. A história de seu Lalor e de sua comunidade culminou em um livro organizado pela profa. Rosa Acevedo que detalha todo processo histórico e de luta por direitos liderados pelo seu Lalor no quilombo contemporâneo de Gurupá.

A esquerda que sobe ao poder até as alas mais extremistas ainda carregam um projeto estatal paternalista quando se trata em lidar com as demandas sociais e garantir os direitos humanos dos povos. Nessas horas, não é pai, é padrasto. Ela não pensa em médio prazo subsidiar sócio juridicamente estas comunidades com ferramentas e estruturas para que elas garantem suas terras e o movimento de suas economias.

O Poder público da esquerda ainda carrega o legado do pai dos pobres, Getúlio Vargas, no qual o Estado se comporta como o pai de todos, concedendo benefícios assistencialistas paliativos em vez de investir em projetos de inclusão produtiva das comunidades para assim lhes ajudar a longo prazo a adquirir autonomia e empreendedorismo, fortalecendo assim a economia familiar.

Está esquerda paternalista até mesmo Lula, apesar de muitos avanços sociais, ainda estão longe da construção de um Estado de Investimento Social (Anthony Giddens) como se tem na Ásia Oriental ou em alguns países da Europa, a exemplo de Lisboa, Portugal.

E ainda para piorar a esquerda brasileira dos pais pouco diz sobre o papel da liderança feminina e étnica nos tablados políticos. Para esquerda paternalista a mulher vem atrás para lhe alicerçar e lhe tirar o espinho da garganta para não morrer com sua própria mortalidade, a mãe/esposa sempre ali atenta para lhe cacifar, no máximo do lado, na frente só os quem tem sacos escrotais são mais aptos para construir os planos políticos bem relacionados com a publicidade de suas personalidades, os reis da educação e da cultura popular.

Certamente Rosa Luxemburgo se tivesse viva e fosse brasileira seria uma pedra no caminho da esquerda paternalista do funcionalismo estatal, pois ela como a história demonstra bateu de frente até com os bolcheviques nas internacionais comunistas quando eles decidiram entrar na I Guerra mundial em 1914, afinal para ela glórias de guerra, microfone e púlpitos não eram tão importante quanto garantir a democracia, a liberdade e as experiências da massa, logo será perseguida pelos pares masculinos que acreditam na força burocrática e no regime fechado. Isso está no seu famoso texto A revolução Russa (1917), li esse opúsculo aos 18 anos, na época militante do PCR (Partido Comunista Revolucionário) e pela luz dele, também, rompi com esse partido com forte influência stalinista. E ainda para Rosa os trabalhadores devem se apropriar dos meios de produção e não se tornar dependentes do Estado. Lembram do empreendedorismo das comunidades? Rosa,mulher socialista para além do tempo dela. Fazia críticas construtivas importantes a Lenin, não como opositora, como alguns anarquistas interpretam inapropriadamente e maldosamente, mas sim como alguém que lutar pela transformação social, de forma democrática e livre. Assim como ela , acredito que sem (auto) crítica e diversidade não se avança.

A tarefa do Brasil é árdua e dupla, pois além da guerra para derrubada da Era Temer em que seus gestores estaduais estão chacinando vidas, a exemplo do que está acontecendo com os trabalhadores rurais no município de Pau D`arco no Pará, onde observatórios virtuais ( https://observatoriomassacrepaudarco.wordpress.com/ ) estão sendo construídos para denunciar ao mundo a violência e a barbárie policial que se está fazendo com os trabalhadores do campo sob respaldo e silêncio do governo do Estado do Pará, há ainda uma outra tarefa para nós brasileiros da América Latina, para depois de toda essa sangria na derrubada de Temer...

“Se queres paz, prepare-se para guerra...”, é a morte da esquerda estatal arrogante, caduca e machista que nada muda suas roupagens, etnias e gêneros burocráticos para renovar e esperançar a vida das massas populares, dos povos indígenas e comunidades tradicionais.

Um Brasil com outros gêneros, outras cores e outras atividades produtivas é possível sim.

Autonomia e liberdade.

E salve alegria de viver para transformar!

Rosa Luxemburgo, presente!

Seu Lalor, presente!

Tópico: ERA TEMER, FHC E A ESQUERDA PATERNALISTA NO BRASIL

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