CRÔNICA DE MORTES ANUNCIADAS: ERA TEMER, ESQUERDA(MACHO) E OUTROS ESPECIAIS DE NATAL.

25/12/2016 16:29

 

 

 

 

 

 

 

POR ALANNA SOUTO

 

Na era Temer o clima de inverno prevalece, sem a lareira para equilibrar a temperatura e o acolhimento social historicamente tão pouco abraçado. As olheiras do povo seguem sem maquilagem, noites viradas por cada cem reais, bota o peixe na mesa, a criançada sorrir, por cada onça que sai da carteira materna ou paterna, um par de tênis para o início das aulas, o índice de natalidade na periferia dos centros urbanos ou ainda nos sertões amazônicos, nestes tempos de temor, volta-se para a lei de Malthus, penaliza-se a população pela crise econômico, o desenvolvimento também retroage, até o sinal verde de aprovação para grandes projetos exploratórios longe do brilhantismo do (auto)sustentável passa novamente a ter suas vozes do jeito que gostam, sem as vozes das comunidades .E cospem nos ensinamentos de Ester Boserup.

“Não... não é uma ditadura” diz uma “grande” intelectual do alto de sua soberbia alva amargurada que viveu os tormentos dos anos de 1960 me provocando por ter usado o termo na atualidade, discordando do meu sentir como ser vivente de um presente incerto golpeado da forma mais cínica da história republicana do meu país, da minha mátria amada, berço da Umbanda Sagrada, religião genuinamente brasileira que também sente junto com seus pares e outros povos de terreiros o dissabor de um tempo legitimado pela intolerância e o racismo.

Não obstante a LGTBfobia de um governo que não reconhece “qualquer maneira de amor, vale aquela, qualquer maneira de amor valerá...”, gera medo e violência. Contudo, quem sempre amou sem medo de ser feliz, sem representação masculina ao longo de sua história, dificilmente se envergará para tanta repressão, no máximo, um nervosismo quando se ler um texto autoral, político e pessoal para dizer o porquê que veio e virá! Abro parêntese nesse instante, lembrando aqui que no meio da leitura de um pequeno texto o qual elaborei para apresentação da Roda conversa: Vozes do feminismo- Resistência, questão étnico-racial e educação, bateu o nervoso na voz bem na metade da apresentação, enfim, dói, mas passa, nem na minha qualificação de tese ou ainda no simpósio brasileiro de cartografia histórica e seus patriarcas “deu o nervoso”, mas os nervos me pegaram nesse debate, que para mim foi, e certamente, para todos que participaram, deveras especial. Nervos já tão feridos com situações de machismo que estávamos enfrentando durante o processo do ocupaNAEA por parte de um grupo específico.  Creio que se pode dar um desconto para essa mulher balzaquiana que voz fala a qual tanto busca se auto-transformar e se rever nos caminhos da vida, especialmente, pelo princípio da lealdade e fortalecimento de seus pares. Sou cria de Virgem e me cobro muito. Não imaginam o quanto.

Fecho parênteses, retomando para a questão que me motivou no início desta reflexão, há quem diga que se trata apenas um “Estado de exceção” e não uma ditadura etc e tal, sem dúvida termos que serão muito bem trabalhados e investigados na historiografia vindoura e que certamente devem ser amadurecidos nos dias de luto e de luta da democracia sucumbida atual.

Há  mais de 50 anos havia o escracho da tortura, da perseguição, as guerrilhas, a disciplina de história excluída da grade curricular, claro, a disciplina que mais empodera a ação, o pensar filosófico, todo um fazer político e científico que se alicerça no fazer histórico, foi golpeada nos anos de chumbo e essa substituída pelos estudos de Moral e cívica; o medo de perder um filho por uma opinião crítica, uma atitude diferenciada e veemente, tudo poderia ser uma ameaça aos olhos da tirania; Elis sobe ao palco e canta para os milicos, forçada , afugentada por esses e apedrejada, julgada e condenada pela juventude do “proibido, proibir”... Tempos de ação e reação a ferro e fogo no cenário político, sociocultural do ainda tão atual século passado, assim também se faz a “banalidade do mal” do presente .

Minhas reflexões advém do calor dos meus sentimentos incertos que em tempos extremos, as reações costumam ser reciprocas às ações algozes que direcionam aos alvos, a Lei de Newtom nunca foi tão preeminente quanto nos tempos de guerras em que até crianças pegaram em armas...A guerra fria não foi tão diferente na América Latina, infestada por ditaduras militares, fedidas, decrépitas, tirânicas e católicas/messiânicas, o povo pegou em armas, revolucionário de suas épocas, o sangue foi o corte necessário para a libertação. Afinal existe revolução sem sangue?

Contudo, o capitalismo este câncer que aperfeiçoa sua doença ao passar dos séculos, gargalha na cara de quem acredita que se trata apenas de governos retrógrados que se fazem (in)justamente em países expoentes do Mercosul — na Argentina ou no Brasil, seja por meio das vias legítimas ou ilegítimas —  no caso brasileiro que para alguns intelectuais de pele alva na cor e na identidade está longe de ser uma ditadura, apesar das PECs da maldade, das tentativas de fragilizar a educação básica, tornando disciplinas como filosofia e sociologia optativas nas escolas, mandando descer o cacete e prender sem dó e piedade manifestantes que vãos as ruas protestar por dignidade; fragilizar políticas inclusivas e de direitos para povos indígenas e comunidades tradicionais; garantir a impunidades do latifúndio e do capital empresarial criminoso, assassinos dos povos ainda mais à vontade nessa velha forma de poder que assaltou a direção do país, alicerçados por grupos políticos machistas e  homofóbicos... Ainda assim dizem não se tratar de uma ditadura.

Será que o cassetete tem que chegar até os lares, do alto de seus condomínios fechados da ala “branca” e bem trajada das elites acadêmicas para então arregaçar as mangas, calçar as sandálias da humildade e vim se propor em construir, de fato, uma agenda combativa e articulada com os movimentos sociais? Ouvir o outro e fazer algo uns pelos outros. Não à toa, sororidade, um termo essencial no feminismo é de suma importância, pois é ela que nos aponta o avesso dela, o autoritarismo, a intolerância e opressão advinda de nossos próprios pares, muitas vezes, “surd@s”, “ceg@s” e “mud@s”.

 A mesma ala “alva” — o termo “branco” aqui mencionado não se trata de cor da pele em si, maior do que isso, “branco” enquanto categoria historicamente colonizadora, machista e patriarcal — quando transvestida de esquerda discordante da Era Temer, até chega nas periferias, heróis da cultura popular, contudo, pouco adiantará, o canto de Gonzaguinha “Eu acredito é na rapaziada que segue em frente e segura o rojão” , se nos espaços públicos ou privados invisibiliza mulheres qualificadas, seja sutil ou explicitamente, que na verdade as vê enquanto rivais e não como pares de uma luta conjunta, não as chamando para o diálogo amistoso ou quando chama é de forma populista e cyberativista. E às favas para importantes teses feministas. E o pior cego é aquele que não quer vê, silencia e continua curtindo o coleguinha. Sim, queridos, colegas da esquerda(macho), silenciar é também um ato de machismo. Do sutil silêncio passa a virar grito dissonante! Violento. Tão opressor quanto quem o pratica. Cúmplices.

O mais irônico das atitudes e atos falhos humanos da esquerda(macho) é que por bem menos conseguem excluir de seus círculos sociais sem ouvir um jovem negro já historicamente excluído de uma sociedade ainda tão segregada racialmente, contudo o coleguinha “branco”, libertário popular que invisibiliza mulheres nos espaços acadêmicos que possuem, de fato, pesquisas feministas ou pesquisas maduras em outros campos da questão étnico-racial, para esse nada diz, continuam curtindo em suas redes virtuais, das imagens inventadas, mas na vida privada, o cheiro não é nada agradável, senhoras e senhores. O último desse porte da esquerda(macho) — numa versão menos cínica e sem tanta maquiagem do que os que se fazem de amigos da mulheres acadêmicas quando em mesa de bar, geralmente, apimentados por seus fetiches sexuais machistas, mas no espaço público acadêmico, só eles podem cantar de galo — foi escrachado nas paredes do Núcleo de Altos Estudos da Amazônia na UFPA e expulso de uma assembleia geral das ocupações contra PEC55.  E assim comeu o pão do vergonha. Há, também, quem o tenho defendido, obviamente, o machismo ainda tão institucionalizado. Todavia, o escracho foi lindo. O escracho como fenda da dominação masculina opressora, silenciosa e sorrateira. Denúncia. Rompimento!

É...maninhos e maninhas, cuidem-se! Revejam-se, reeduquem-se, não sejam cumplices da vilania por mais sutil que possa [NEM] aparecer. Mas para quem é historicamente excluído, sempre será uma agressão, uma covardia, um golpe! E vale lembrar a MÃE NATUREZA É MÃE, NÃO É MADRASTA. Ferina, justa e reativa.

 

SARAVÁ.

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