CANTO PARA OXUM: AS FACES MARIANAS PARA O MUNDO.
fonte: The Tree Marias por https://bondearte.blogspot.com.br/2011/10/three-marias.html
Por Alanna Souto
A simbologia divina é riquíssima e um dos arquétipos que mais me encanta é de Oxum que no catolicismo sincretiza-se de forma mais popular com a Nossa Sra. Maria de Nazaré e a Nossa senhora de aparecida, a padroeira do Brasil.
Como sempre se costuma dizer, baseada na literatura umbandista, o orixá sendo emanação divina, ele transcende o santo, logo Nossa Sra. de Nazaré é Oxum, mas Oxum não é nossa sra. de Nazaré , “Ela” ultrapassa essa “qualidade”, podemos dizer assim que Oxum é a representação de todas as santas “Marias” que existiram na face da Terra em suas jornadas de lutas, amor e milagres.
Oxum na arqueologia divina representa o trono feminino do amor, irradia o amor de forma harmônica perenemente, buscando transmutar os seres a fim de reativar e fortalecer a centelha divina que existe em cada um de nós, sem manipular, sem subjugar, sem impor... Orixá- arquétipo da harmonia, da união, da flexibilidade, da cura e da revolução do afeto. Carrega no colo e embala; e até mesmo na hora da repreensão faz de modo compassivo, compadecida das limitações humanas, clama por misericórdia ao Criador por nós, sim, “Ela” é a grande advogada da humanidade.
Orixá nenhum cobra direitos autorais de seus ensinamentos, dos seus auxílios e de seu afeto mesmo porque quando tais informações chegam a terra e se o elo de comunicação passou pelo ser humano já não veio puro e dependendo do [des] equilíbrio do indivíduo pode refletir mais o seu ego e ambições do que a mensagem do Alto, essa reflexão serve para que nós nos miremos nesse verdadeiro amor divino de Oxum que ajuda e ama sem ver quem e onde.
Segundo orienta um mestre cabalista Von-Rommel em seu livro os “100 segredos- Usando crenças e símbolos ao seu favor”, a caridade pode salvar até da morte e nos diz por meio do sábio Moisés Maimônides sobre os oito degraus no dever da caridade. Aqui destaco, conforme o próprio autor diz “o primeiro e último, o mais meritório de todos, é antecipar a necessidade evitando a pobreza [seja material ou de ‘espírito’- grifo meu], isto é, ajudando quem precisa por meio de uma doação considerável, ensinando-lhe um ofício ou lhe encaminhado nos negócios. Para que possa ganhar a vida honestamente, sem recorrer à caridade”, fazer tal ação de maneira desinteressada, discretamente e de coração limpo, sem esperar reconhecimento, divulgações e aplausos, para isso devemos está em sintonia com essa energia que emana mamãe Oxum, o amor genuíno.
Algum leitor do outro lado pode bravejar e dizer isso não passa de assistencialismo barato, em especial, a ala “revolucionária” os quais crêem que somente gritos e organizar piquetes são o suficiente para mudar o mundo, que apesar de fundamental para descascar a laranja da desigualdade social não é o suficiente, como bem demonstra o dia-a-dia, todos estão a competir por status quo, seja material, intelectual ou virtual, julgando, apedrejando quem quer seja ou quem não siga sua forma de pensar, suas linhas ideológico-culturais e [des]crenças. O mesmo acontece com os “donos” de “igrejas” [sejam institucionais ou não], pregadores da caridade, mas que amaldiçoam impiedosamente todos que questionam suas condutas, cobrando literalmente por reconhecimento e gratidão, duas ações inatas do cosmo, olvidando-se da lei física de Newton. E assim caminha humanidade.
Um arquétipo pouco mencionado no panteão das “Marias” [ou mariano], já que mais famosas são as histórias da Virgem Maria [Nossa Sra. de Nazaré], mãe de Jesus ou mesmo da padroeira de nosso país, a nossa Sra. da Aparecida, a madona negra libertária do povo brasileiro...é a simbologia da tão misteriosa quanto as outras, mais menos estudada ou mencionada, a controversa Maria Madalena uma espécie de Sta. Bárbara no culto simbólico mariano, dentro do âmbito dos orixás, lembraria Oxum opará que é uma qualidade de Oxum sob influência de Iansã.
Certamente se fossemos fazer uma cartografia do movimento feminista, encontraríamos dentre suas pioneiras Maria Madalena, cuspida e açoitada ao longo da história como adúltera e sofrendo o estigma de prostituta, a escrava da luxúria que “tentou” Jesus e teria passado o resto da vida em penitência, morando numa gruta, segundo o sermão do papa Gregório I (540-604).
Atualmente sabemos que Maria Madalena foi uma mulher para além do seu tempo que lutou pela cura e libertação das mazelas e da miséria em que vivia o povo na Galiléia sob administração tirânica dos romanos numa época em que as mulheres não tinham voz nenhuma até mesmo os 12 apóstolos de Jesus fazem pouca menção no evangelho da participação das mulheres na jornada de pregação do cristianismo, a lembrar de Joana, Suzana, Salomé e mesmo Maria, mãe de Jesus não são citadas nos “Atos após Petencostes” , apesar da atitude de Jesus ter tentado ativar uma comunidade de discípulos iguais, tratando todos da mesma forma, colocando as mulheres numa posição proeminente e afastando a ideia pretendida de impureza, os vários anos de companheirismo das mulheres com os 12, diz Fernanda de Camargo-Moro, não os fizeram evoluir ao ponto de rever seus conceitos sobre o feminino e considerá-las iguais. Contudo isso não diminuiu atuação da sábia Maria de Magdala que superou limites e foi uma das discípulas mais dedicadas de Jesus, provocando até mesmo ciúmes e quiçá inveja nos apóstolos, a citar Pedro sempre a questioná-la ferozmente a Jesus, no Evangelho segundo Tomás, dispara: “Que Maria saia dentre nós! Porque as mulheres não são dignas de vida!”
Maria Madalena teve uma ligação confidencial com Jesus, chamada de koinomos, palavra grega que tecnicamente significa “consorte” ou “companheira”, testemunha primordial da ressurreição de Cristo, uma iniciada que buscou até o fim de sua vida lutar pela reforma humana, sempre amorosa e já em tempos bíblicos quebrando paradigmas no que diz respeito à sexualidade. Afinal, a essência humana é o que importa independente de gênero ou status santo, não à toa deixaram registrado e hoje já conhecido “O evangelho de Maria”, um texto do início do século II, encontrado em Nag Hammadi e datado por volta do ano 150 d.C., escamoteado e pouco mencionado pela Igreja Católica apostólica Romana.
No dia de hoje, 12 de outubro, escrevo em homenagem e reverência á todas as “Marias” que buscam superar seus traumas, limites e perseguições, sem perder o “rebolado” e o senso de humor, labutando e se lapidando.
Independente de crenças, o arquétipo mariano existe dentro de cada um de nós, que é nada mais que o amor, o afeto, a fraternidade e a solidariedade, palavras que desde inícios dos tempos são bandeiras de luta que poucos colocaram a frente de suas ambições ideológicas.
Enfim, apeguemo-nos a “advogada nossa”, como há 32 anos tenho aprendido com meus velhos pais, que não são intelectuais, e sim sábios, [sou filha e admiradora, então pode ser exagero], tem me ensinado algo que finalmente estou começando a absorver, que nenhum templo, universidade, livro ou Phd até agora conseguiram me ensinar que é justamente a importância do amor nos momentos mais especiais, tensos ou dolorosos da vida, sem máscara, na prática.
Salve as “Rainhas”!
Ora iê iê iê, ô, mamãe Oxum!
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