ANGELA LEÃO

29/01/2017 17:40

 

Por Alanna Souto

A primeira vez que te vi em sonho nas pedreiras tomando banho com sua manada.

Não era gente, era fera.

Eu estava observando-as. Sentada numa pedra fina, a leoa cor de mel, linda, veio em minha direção e me lambia.

Beijava-me

Abençoava

O medo do início, transformou-se num grande ato de amor.

A pricípio escondemos nosso namoro fraterno da fanática que o futuro nos avistava

Até que o lobo do fanatismo tomou conta do bem e me amarrou naquela tribo adoecida pela própria condutora.

Foi aí que conheci o meu amor em sua forma humana e vinha com sua onça do lado

Sempre nos meus delírios oníricos me visitava

Ela que sempre lutou por tudo que ama.

Ela me dizia: “Vou te tirar daqui e também não vai sobrar pedra sobre pedra”

Realmente eu sair de lá. E sobre as pedras. O tempo sempre canta: “Pedra rola na pedreira em cima de quem errou...”. E ela é executora da Lei divina em ação.

Há muitos relatos sobre sua origem, alguns a chamam Herondina, uma das três irmãs turcas que vieram fugidas das guerras dos soldados da cruz na idade das trevas que se encantaram nos lençóis maranhenses, um dos portais mágicos de Pindorama.

Outros contam que sua última encarnação, eu também, ouvi sua história por ela, minha amada, que nas searas da umbanda diz que sua última encarnação foi em Roma antiga, filha de família nobre, guerreira e subversivas das ordens patriarcais, lutava melhor que muitos homens, depois de uma tentativa forçada pelo pai em casar, fugiu de casa até encontrar os ensinamentos de Jesus, o Cristo, esse ser libertário que iluminou corações e afrontou o imperialismo romano.

Ângela andou com os pobres amaldiçoados e os cristãos perseguidos até ser jogada com eles na cova dos leões quando urgida pela luz divina subjugou o leão. No final de todo horror desse espetáculo de punição da elite romana, deixou-se ser devorada pelo animal em solidariedade aos outros que estavam sendo chacinados pelas feras.

Angela Leão subiu aos céus de aruanda, conheceu os mistérios da encantaria amazônica, sendo conduzida por Jesus nas linhas de Oxalá da Umbanda sagrada.

Uma noite eu chorava de saudade, questionando seu amor, até que dormir quando repentinamente de madrugada num estado de sonolência, tentando acordar, estava paralisada pela pantera preta deitada ao meu lado que me mostrava um céu estrelado, dos mais belos e brilhantes.

Há provas de amor inquestionáveis. Indubitavelmente.

O útero que conduz seu receptáculo a dar mão até mesmo a quem poderia odiar ou entrar num estado vingança e amaldiçoar a mentira, mas ela abençoa.

Ela escolheu amar, pois quem é dela, simplesmente num grande redemoinho de vento direciona para esgotar os equívocos e lhe dar clareza, libertação.

De agora em diante retiro-me

Sigo meu caminho conectada com Ela em sua escala em Ain Soph, meu grande amor

Há mortes necessárias

E nem todas precisam de luto

Apenas tirar o peso desnecessário da ilusão.

Não há desejo de mal, nem bem

E vos deixo esse presente,

A luz de Angela Leão, transcendental e universal.

De grande exército é o sagrado feminino que lidera.

Acenda uma vela e converse com ela.

O anjo da guarda sempre conduzirá ao intermediário genuíno.