Amor [matrilinear] bipolar
por Alanna Souto
...sinto uma alegria, um bem estar, uma paz, ao mesmo tempo parece que algo morreu dentro de mim, como se agora eu estivesse com o coração aberto e preparado para um novo ciclo, de um viver, um morar junto. A orgásmica reciprocidade no ato de receber e dar, dois inteiros unos. Ao mesmo tempo que sinto isso, bate uma angústia, uma sensação de luto, de repente uma vontade imensa de ser tocada nas minhas partes num grande ato de amor alucinante íntimo, o toque do amor arredando a minha calcinha preta enlutada e castrada, o luto do coração antigo, do desejo obsoleto que faleceu. Os toques da renovação invadem meu leito, senta na beirada da minha cama, felina enlutada, assustada com essa chegada inusitada, os dedos extraterrestres tocam com maestria os [grandes e pequenos] lábios que começaram a chover, gemer, num laço passional selado intra-vaginal, Sol de agosto na abertura marciana, a união estável. O gozo curador, a transformação de um novo habitat, marcado pela altivez da fidelidade da paixão avassaladora e focada no desejo compulsivo de suas genitálias, portas de entradas para a Vênus bipolar, leoa exu-angelical. Meu peito esquerdo mamado, chorado, alimentado, alimentando o amor nascido da transmutação, macho-fêmea de si, do útero matrilinear. No espaço vivido interino, flor rara empoderada, reveza-se em conexão orixás intergaláctica entre "Jesus, Marias e José" em seu tronco ain soph, a icamiaba Rosa amadurecida, recolhe-se resiliente, engravidada de "frutos", observando o [in] certo mergulho ultramar, o encontro turbulento das águas doces e salgadas, o mapa do retorno, o nascer da árvore.
Chegou a hora...